Um cronograma bem elaborado é a espinha dorsal de qualquer
projeto de sucesso. No Primavera P6, a capacidade de construir um cronograma
que não apenas reflita a realidade do projeto, mas também atinja uma alta
pontuação de qualidade, é crucial para a gestão eficaz. Este guia detalha
um conjunto de regras essenciais para alcançar esse objetivo, garantindo que
seu projeto seja robusto, fácil de analisar e otimizado para o acompanhamento.
A ideia central é que um cronograma pode ser
"pontuado" com base em sua conformidade com as melhores práticas de
planejamento. Ao seguir estas regras básicas desde o início, você garante que
seu cronograma não só seja funcional, mas também de alta qualidade e pronto
para auditorias e análises complexas. A pontuação reflete a aderência a padrões
que promovem clareza, precisão e facilidade de manutenção.
A base de um bom cronograma começa com as configurações
corretas do software.
Unidades de Duração: É
fortemente recomendado utilizar duas casas decimais para as
durações das atividades. Isso permite uma precisão maior no planejamento,
especialmente para tarefas de curta duração, e facilita a visualização
exata do tempo. Além disso, sempre mostre a unidade de medida (ex:
h para horas, d para dias) para evitar ambiguidades e garantir que todos
os usuários compreendam o contexto temporal.
Formato de Datas: O formato
de data deve ser claro e legível, exibindo o mês por extenso (ex:
"01 de Janeiro de 2025"). Isso melhora a compreensão visual e
reduz a chance de erros de interpretação. A Data Date (data de corte do
projeto), que representa o momento em que o status do projeto é
avaliado, deve ser igual à Data de Início (Start Date) do projeto
no momento da criação. Isso estabelece um ponto de partida limpo e
consistente para o planejamento inicial.
Moeda Padrão: Defina a moeda
padrão como dólar ($), mesmo que os valores financeiros sejam em
Reais. Esta é uma prática comum em projetos internacionais e facilita a
padronização, especialmente se o projeto tiver alguma interface com
relatórios ou sistemas globais. Não utilize casas decimais para a moeda,
para simplificar a visualização dos custos e evitar a necessidade de
ajustes em relatórios.
O status inicial do projeto é fundamental para indicar sua
fase de desenvolvimento.
Status "What-if" (Em
Simulação): Ao iniciar um novo cronograma, o status do projeto deve
ser definido como "What-if". Este status indica que o
cronograma ainda está em fase de planejamento e simulação, permitindo
ajustes e otimizações sem afetar um projeto "real" ou
"ativo". É uma forma de "rascunho" que protege a
integridade dos dados de projetos em execução.
A WBS é a decomposição hierárquica do trabalho do projeto em
componentes menores e mais gerenciáveis.
Níveis Consistentes: Sempre
que possível, a WBS deve ter o mesmo número de níveis para todas as
suas ramificações. Essa consistência visual facilita a leitura, a
navegação e a compreensão da estrutura do projeto. Além disso, otimiza o
uso do recurso "collapse to" (colapsar para), que permite
visualizar o cronograma em diferentes níveis de detalhe.
Orientação por Entregas (PMBOK):
É uma boa prática seguir as recomendações do PMBOK (Project Management
Body of Knowledge), que sugere que a WBS seja baseada nas entregas
(deliverables) do projeto, e não nas fases ou departamentos. Isso
garante que cada componente da WBS represente um resultado tangível,
facilitando o controle e a medição do progresso.
Elaboração Prévia no Excel:
Recomenda-se elaborar a WBS no Excel antes de transferi-la para o
Primavera P6. O Excel oferece maior flexibilidade para rascunhar, revisar
e organizar a estrutura, permitindo que você refine a decomposição do
trabalho antes de inseri-la no software, economizando tempo e evitando
retrabalho.
A escolha do tipo de atividade impacta diretamente o
comportamento do cronograma.
Task Dependent (Dependente de
Tarefa): No início do projeto, utilize apenas o tipo de atividade
"Task Dependent". Este tipo de atividade é o mais comum e
flexível, pois sua duração é calculada com base nas relações de
dependência com outras tarefas.
Evite Marcos e Atividades Não
Críticas Inicialmente: Evite incluir marcos (milestones) ou
atividades que não impactam diretamente o caminho crítico (ex: manutenção,
gerenciamento) nas fases iniciais do planejamento. Essas atividades podem
ser adicionadas posteriormente, uma vez que a lógica principal do
cronograma esteja estabelecida. O foco inicial deve ser nas atividades que
definem o fluxo de trabalho principal e as dependências críticas.
A identificação única das atividades é crucial para a
organização e a análise.
Padrão Sequencial: A
numeração das atividades (Activity ID) deve seguir um padrão sequencial
(ex: de 10 em 10, 20 em 20). Isso permite a inserção de novas tarefas
entre as atividades existentes sem a necessidade de renumerar todo o
cronograma, mantendo a ordem lógica e a clareza.
Identificação Significativa:
Uma boa prática é criar uma identificação fácil no Activity ID que
indique a origem ou o contexto da atividade. Por exemplo, utilizar
"TPPP010" onde "TP" pode significar "Trabalhos
Preliminares" e "PP" "Preparação de Terreno", em
vez de um código genérico como "A1090" que não oferece nenhuma
informação contextual. Isso melhora a legibilidade e a compreensão do
cronograma.
Nomes claros e padronizados facilitam a comunicação e a
análise.
Verbos no Início: Para os
nomes das atividades (Activity Name), uma boa prática é usar verbos no
início (ex: "Definir escopo", "Realizar levantamento
topográfico"). Isso indica claramente a ação a ser executada e mostra
a preocupação do planejador com a clareza e a precisão.
Nomenclatura Padronizada: Uma
nomenclatura padronizada para os nomes das atividades facilita
enormemente o uso de filtros no software. Isso permite que você
localize e agrupe atividades de forma eficiente para relatórios e análises
específicas.
A duração das atividades afeta a precisão e a granularidade
do cronograma.
Limitação de Duração: Evite
durações de atividades acima de 21 dias. Atividades muito longas
podem mascarar problemas e dificultar o acompanhamento do progresso. O
ideal é manter a duração entre 1 e 21 dias.
Sem Casas Decimais:Nunca
utilize casas decimais para a duração das atividades (ex: 2,5 dias).
As durações devem ser números inteiros. Se uma tarefa for mais curta,
divida-a em sub-tarefas ou ajuste a unidade de tempo (ex: use horas em vez
de dias).
Os relacionamentos definem a lógica do cronograma.
Finish to Start (Fim-Início):
Utilize apenas o relacionamento "Finish to Start" (FS).
Este é o tipo de relacionamento mais comum e direto, onde uma atividade
sucessora só pode começar depois que sua predecessora for concluída.
Evitar outros tipos (como Start to Start, Finish to Finish, Start to
Finish) simplifica a análise do caminho crítico e reduz a complexidade do
cronograma, tornando-o mais fácil de entender e manter.
Predecessoras e Sucessoras:
Com exceção da primeira e da última atividade do projeto, cada
atividade deve ter uma sucessora e uma predecessora. Isso garante que
o cronograma tenha uma lógica de fluxo contínua e que todas as atividades
estejam interligadas, permitindo um cálculo preciso do caminho crítico e
das folgas.
A folga total indica a flexibilidade de uma atividade sem
atrasar o projeto.
Minimizar Grandes Folgas:
Sempre procure relacionar a atividade sucessora próxima à sua
predecessora. Ou seja, analise a data de término da predecessora e
identifique uma sucessora que possa começar logo em seguida. O objetivo é evitar
folgas muito grandes no cronograma, pois folgas excessivas podem
indicar uma lógica de planejamento fraca ou atividades desnecessariamente
separadas. Um cronograma com folgas controladas é mais realista e fácil de
gerenciar.
O calendário define os dias e horários de trabalho do
projeto.
Calendário Padrão: Utilize
um calendário padrão de 8 horas por dia, de segunda a sexta-feira,
para todas as atividades. Isso simplifica a gestão do tempo e garante
consistência em todo o projeto.
Tipo "Project": O
calendário deve ser do tipo "Project" (projeto), e não
"Global". Um calendário do tipo "Project" é específico
para o seu projeto, garantindo que alterações feitas em outros projetos no
Primavera P6 não afetem o seu cronograma. Isso proporciona maior controle
e isolamento.
As configurações de cálculo são cruciais para a precisão do
cronograma.
Opção "Default"
(Padrão): Para garantir um cálculo correto e consistente do
cronograma, utilize a opção "Default" (padrão) nas
configurações de cálculo. Isso restaura as configurações originais do
Primavera P6 para o cálculo do cronograma, evitando comportamentos
inesperados causados por personalizações que podem ter sido feitas
anteriormente.
A atribuição de peso é fundamental para o gerenciamento do
valor agregado.
Peso Padrão em Atividades:
Defina um peso padrão em todas as atividades (ex: utilizando um
campo como "ponderador" ou "profis"). Este peso deve
ser atribuído usando a opção "non-labor" (não-mão de obra).
Cálculo do Valor Agregado: A
atribuição de um peso permite que se atribua um valor monetário a
cada atividade, o que é essencial para calcular o valor agregado
(earned value). O valor agregado é uma métrica crucial para o controle
de custos e progresso do projeto, fornecendo uma visão clara do desempenho
financeiro em relação ao trabalho realizado.
Restrições são datas fixas ou limites impostos a atividades.
Evitar no Início: Mesmo que
pareça necessário, não é recomendado utilizar restrições (constraints)
no primeiro momento do planejamento. Restrições como "Must Start
On" (Deve Começar Em) ou "Finish On" (Terminar Em) podem
mascarar a verdadeira lógica do cronograma e dificultar a identificação do
caminho crítico.
Exceções e Último Caso:
Restrições devem ser exceções e utilizadas somente em último caso,
quando não houver outra forma de modelar uma exigência específica. Deixe
para adicioná-las apenas no final do processo de planejamento, após
toda a lógica de dependências ter sido estabelecida.
LAGs são atrasos ou antecipações adicionados aos
relacionamentos entre atividades.
Evitar Atrasos/Antecipações:
LAGs representam atrasos ou antecipações (se forem negativados) entre
atividades. Assim como as restrições, não é recomendado utilizá-los no
início do planejamento. Atrasos e antecipações devem ser modelados
através da criação de atividades específicas para esses intervalos, com
suas próprias durações e recursos, o que torna o cronograma mais
transparente e gerenciável.
Exceções e Último Caso:
LAGs devem ser exceções e utilizados somente em último caso, quando
a criação de uma atividade separada não for viável ou prática. Deixe para
adicioná-los apenas no final do processo de planejamento.
As versões mais recentes do Primavera P6 vêm com um recurso
integrado chamado "Check Schedule Report". Este relatório é
uma ferramenta valiosa para a análise da integridade do cronograma,
identificando potenciais problemas e inconsistências que podem afetar a
precisão e a confiabilidade do planejamento. Ele verifica diversos aspectos do
cronograma, como:
Atividades sem predecessoras ou
sucessoras: Exceto a primeira e a última atividade, todas as outras
devem ter links lógicos.
Atividades com durações
excessivas ou muito curtas: Alerta para atividades que fogem do padrão
ideal.
Lógica aberta: Identifica
atividades que não estão conectadas corretamente ao fluxo do projeto.
Restrições (Constraints) e LAGs
excessivos: Sinaliza o uso de elementos que podem distorcer a lógica
do cronograma.
A utilização regular deste relatório permite que os
planejadores identifiquem e corrijam problemas proativamente, garantindo um
cronograma mais robusto e aderente às melhores práticas.
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